quinta-feira, 14 de junho de 2012

Sair do €uro (parte 2)



A posição de Tiago Mestre, autor do blog Contas Caseiras.




O € só continuará com alguma credibilidade enquanto a Alemanha mostrar vitalidade económica e se chegar à frente nos bailout's.

Um dia este ciclo irá terminar, com isso virá a desconfiança e lá se vai o euro como padrão-ouro.

Todas as medidas inflacionistas que o BCE tomou (SMP, LTRO e Target2) representam euros que entraram nos mercados. Alguns deles estão parqueados no BCE, como sabemos, evitando maiores males. Mas a inflação só não ataca porque:

- continuamos a assistir a um mega desalavancamento no setor privado (Há menos créditos a realizarem-se diariamente, reduzindo a expansão monetária)

- a confiança que ainda há no euro mantêm muitos ativos denominados nesta moeda.

O € está assente num castelo de cartas que se fragiliza dia após dia. Não tenho nada contra o €, mas tanto a sua origem, como a sua construção e gestão revelam o logro que é esta moeda.


Oxalá que assim não o fosse, e aí sim, à moda do Salazar, tínhamos uma moeda rica e exigente para com o seu povo, obrigando este a ser melhor dia após dia. Esse era o € que eu gostava de ver.


O BCE está falido e não hesita em imprimir dinheiro, metade dos países do € estão falidos e pedem dinheiro emprestado entre eles, andamos diariamente a pedir emprestado ao resto do planeta. Grécia faz bluff, ameaça e a UE ajoelha-se. Quer dizer, é tudo ao contrário.

Está-se todos os dias a trabalhar para que a confiança no € desapareça. E quando todo este dinheiro escondido (parqueado) e todos estes ativos denominados em euros vierem à superfície, aí teremos muito dinheiro a competir pelos mesmos bens. Lá se foi o padrão ouro e o euro torna-se numa moeda fiat igual a qualquer outra. O único ativo que o euro ainda possui é a confiança das populações. Não tem ouro a suportá-lo, nem petróleo, nada.

A única diferença aqui entre o € e um eventual novo escudo é a escala. O € é gigante e engloba muitos países, alguns deles com pib per capita do melhor que há no mundo. O capital de confiança que se depositou nesta moeda é 1000 vezes superior ao depositado num novo escudo que será governado por políticos portugueses ignorantes e populistas. Descredibilizar o € demora 1000 vezes mais do que o escudo, mas os políticos estão ativamente a promover isso.

Acredito que um novo escudo português ou um € sem a Alemanha sofrerá desvalorizações enormes. Na tentativa de pagar empréstimos e despesas, recorrerão à impressão para despachar o assunto. Também não quero isso, quem me dera a mim que tal não sucedesse, mas acredito que o € está condenado a prazo, e não por minha culpa. Teremos que que arranjar outra coisa qualquer que o substitua, quer concordemos ou não.




2 comentários:

  1. Jornal i de hoje:

    "A lei orgânica do Tribunal de Contas não lhe permite punir os responsáveis, porque só considera ilegalidades as infracções financeiras.
    Quando o Tribunal de Contas (TC) descobre que o Estado ou as suas empresas gastam mal os nossos impostos ou assinam negócios ruinosos para os contribuintes, a pergunta que todos fazemos há anos é esta: “Nada acontece aos responsáveis?”
    A realidade portuguesa das últimas décadas prova que a resposta é negativa, ficando impunes os casos de má gestão de dinheiros públicos.
    O TC tem dedicado atenção a concursos de obras públicas, nos quais já ocorreram derrapagens financeiras de 300% ou atrasos na sua conclusão de mais de oito anos, ou em que não foi estimado o valor actual dos encargos com a manutenção e a conservação das infra-estruturas e equipamentos e por isso se transformaram em verdadeiros elefantes brancos. Todos nos lembramos dos casos dos estádios do Euro 2004, da Ponte Rainha Santa Isabel, em Coimbra, do Túnel do Terreiro do Paço, em Lisboa, ou da Casa da Música, no Porto.
    O TC arrasou ainda parcerias público--privadas (PPP) por serem desastrosas para os contribuintes e insustentáveis para as gerações futuras – e logo nos recordamos dos casos da Lusoponte, das Scut, dos contentores de Alcântara ou da Metro do Sul do Tejo.
    Nestas situações, e em muitos outras, o TC realiza auditorias, faz as contas e conclui que centenas ou milhares de milhões são mal gastos, porque os gestores públicos não respeitam os critérios da economia, eficiência e eficácia.
    Mas a lei orgânica do TC não lhe permite punir os responsáveis, porque só considera ilegalidades as infracções financeiras. E os portugueses, atónitos, olham para tudo isto como mais uma fatalidade lusitana.
    Só que não há aqui qualquer fado ou fardo que os contribuintes, no limite da exaustão fiscal, devam continuar a suportar.
    O que me salta à vista é uma inexplicável falta de coerência e de vontade política do legislador de mudar as coisas.
    De acordo com a lei orgânica do TC, o dispêndio de dinheiros públicos sem respeito pelos critérios da economia, da eficiência e da eficácia pode e deve ter a primazia de ser auditado e criticado por aquele tribunal.
    Inexplicavelmente, aquela lei não elenca as importâncias mal gastas pelos gestores públicos como infracção financeira, punível pelo TC, com multa ou reintegração nos cofres públicos.
    Isto apesar de já ter sido modificada cinco vezes pelo parlamento, a última das quais em 2012, não obstante o legislador impor, desde 1990 e até em leis de valor reforçado (Lei nº 52/2011, de 13 de Outubro), que nenhuma despesa pública pode ser autorizada ou paga sem que satisfaça o princípio da economia, eficiência e eficácia.
    Os senhores deputados devem criar uma lei que permita punir exemplarmente os gestores públicos, incluindo os decisores políticos, que autorizem ou paguem despesas que não tenham “em vista a obtenção do máximo rendimento com o mínimo de dispêndio, tendo em conta a utilidade e prioridade da despesa e o acréscimo de produtividade daí decorrente” (Decreto-Lei nº 155/92, de 28 de Julho, artigo 22º nº 3).
    Como a escassez dos dinheiros públicos exige. Como a credibilidade técnica e a sustentabilidade da gestão financeira pública impõem.
    A culpa não pode voltar a morrer solteira em Portugal.
    Carlos Moreno- Juiz Conselheiro jubilado do Tribunal de Contas."
    Já tinha falado disto... Espero que gostem. JB

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    1. JB,

      A justiça é mais que cega em Portugal. Simplesmente não funciona.

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