sexta-feira, 8 de junho de 2012

Consegue Portugal aguentar-se à custa de 100 empresas?

A posição aqui no blog é clara.

Já tínhamos alertado também para estes números neste post

Agora temos um artigo a questionar:


Uma centena de empresas valem 50% das exportações e só 18 mil em 380 mil exportam. Será o emprego sustentável em Portugal deixando colapsar o mercado interno?



Portugal tem 380 mil empresas, das quais 320 mil são microempresas, com menos de dez trabalhadores. No total só 18 mil empresas são exportadoras e, destas, cerca de 100 valem 50% do volume total das exportações portuguesas. Os números do Banco de Portugal, descritos pelo economista Ricardo Arroja no blogue "O Insurgente", mostram a estreiteza atroz do caminho que o governo português e a troika querem seguir – todos acreditam que a economia portuguesa aguentará de pé apenas com o contributo de um grupo muito restrito de empregadores, à medida que se deixa colapsar o sector não exportador e se aguarda pela transferência de recursos para o exportador. A pergunta de Ricardo Arroja é a mesma que muitos vão fazendo, sobretudo depois de conhecidos os números alarmantes do desemprego: "Será a empregabilidade em Portugal sustentável apenas deste modo?".  A resposta: "Não me parece".
Governo, troika e Banco de Portugal apostam num programa rápido e violento de ajustamento económico, assente em austeridade para disciplinar as contas e em reformas estruturais para libertar o "crescimento". Foi o que fez, por exemplo, a Estónia, exemplo dourado e isolado no euro, para o qual olham com esperança membros do governo e dos partidos da maioria. A Estónia é um país cujo PIB encolheu 18% entre 2008 e 2009, onde a austeridade mordeu com força e que agora está no euro com uma taxa de crescimento acima de 7% e um rácio de dívida de 6% do PIB. O problema? A Estónia tem cerca de um décimo da população de Portugal, partiu para a crise com um nível muito menor de endividamento e tem uma força de trabalho muito mais preparada do que a portuguesa (89% das pessoas entre 25 e 64 anos têm pelo menos o 12º ano, um dos níveis mais altos na OCDE; em Portugal são 30%). As comparações simplistas são sempre enganadoras.
O principal problema do programa português é o facto de tresandar a pura fé académica. Num país que tem um défice educacional acumulado há anos, em que a geração mais preparada é demasiado jovem e está bloqueada por inúmeras resistências é uma ilusão pensar que sem qualquer um dos instrumentos de política económica – cambial, comercial, monetária ou fiscal – se consegue reactivar a economia afundada por austeridade. Sem ponderar algum destes instrumentos, sem considerar alguma medida diferente dos esfarrapados pacotes de "impulso jovem" não haverá crescimento, nem emprego no curto a médio prazo. O FMI percebeu isso quando propôs o corte na Taxa Social Única, abandonado a favor de mais segurança na consolidação orçamental.
Realçar a importância desta questão não é embarcar na conversa estéril do "mais tempo" ou do "crescimento". O que está em causa é negociar na Europa medidas verdadeiras de estímulo para não deixar cair completamente a economia interna, responsável por uma fatia esmagadora do emprego. Estas medidas podem envolver, por exemplo, algum proteccionismo selectivo nos casos de sectores com conhecimento português, como sugere Arroja (política comercial), incentivos fiscais significativos para determinados sectores (política cambial mascarada de fiscal), entre outras.
Tais medidas afrontam a ortodoxia europeia feita à medida de países que já foram proteccionistas e que agora se podem dar ao luxo de falar em mercado livre (como tão bem descreve o economista Ha-Joon Chang, no livro "Bad Samaritans"). Mas é aqui que o governo pode usar o trunfo conquistado no seu primeiro ano, a recuperação da credibilidade externa, para defender de forma activa defesas durante um período alargado de tempo que ajudem uma economia frágil a reestruturar-se, sem pôr em causa as reformas que atraiam investimento. Ao fazer nada – ao confiar cegamente nas "reformas estruturais", sem imaginação para mais – o governo arrisca o fim da aceitação social da austeridade. Arrisca, no fundo, a sua própria sobrevivência política. Explicado com a convicção de Gaspar, em Bruxelas e em Berlim percebem isto. Haja vontade.

Bruno Faria, Jornal I, artigo aqui


3 comentários:

  1. Lá vêm a história da Austeridade, mas que austeridade?

    A realidade é que não existe austeridade nenhuma, o que aconteceu foi os governos sucessivos (sócrates e Passos coelho) aumentaram brutalmente os impostos, não reduzindo a despesa.

    A única redução da despesa foi o não pagar os dois subsídios há função publica e aos reformados.

    Continuam com a ideia de politicas activas de crescimento, isso não funciona.

    Destruir o mercado interno? bem se este mercado é baseado em "industrias" que sem a despesa do estado(logo divida) não tem capacidade de existir então que desapareçam.

    O estado esta a destruir o tecido produtivo e negócios que sem a sua intervenção seriam rentáveis e geradores de emprego. O confisco fiscal que assistimos é o responsável pela destruição da economia.

    Estamos em Depressão económica, o que se esta a fazer com a ideia que se vai resolver o problema é empurrar com a barriga a ver se existe algum milagre.

    A economia só se safa, se o estado for desmontado e se deixarmos de necessitar de divida deste , mas isso levaria a uma revolta popular, os interesses instalados iriam tratar de por a população contra.

    Se Eu fosse primeiro ministro, o que faria?

    Falaria abertamente com a população, diria que a situação é muito grave, e que a única saída é devolver ao cidadão o total poder para fazer o seu caminho.

    Reduziria rapidamente o gasto do estado, objectivo cortar 10 pontos ao peso do estado na economia, isto em 12meses.
    Explicaria que com isto, o desemprego iria subir e muitos serviços seriam extintos, mas o objectivo seria colocar um nivel de despesa que a economia consegui-se comportar.
    Tomaria medidas para limitar os poderes do estado, privatizando todas as empresas e fechando as que dessem demasiados prejuízos e ninguém estivesse interessado em comprar.
    Reformaria a justiça (esta a parte mais dificil)
    e por aí fora.

    Objectivo acabar com o poder e influência dos políticos

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    1. Concordo Filipe! A austeridade em Portugal é um soundbyte que ainda não atingiu a raíz do problema mas que já afetou toda a gente. Já se devia ter começado a reformar o estado faz anos. Não se fez e agora devia ser de forma radical. O peso do estado tem de descer para 35%.

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  2. Reparem que o artigo do Bruno Faria reflete ainda muito esta ideologia do pedir de mão beijada à Europa:

    "temos que negociar com eles"
    "temos que negociar políticas protecionistas/fiscais"
    "temos que negociar verdadeiras medidas de estímulo"
    " temos que..."

    Temos é que mandá-los para um sítio que eu cá sei, isso sim.

    Acham que a Europa recuaria em política alfandegária, pondo em causa uma das conquistas da UE? Duvido, e seria sempre com muitas condições à mistura, à boa maneira do planeamento centralizado. Confusão total, claro

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