A visão da escola austríaca aplicada à crise europeia
Análise feita pelo Instituto Ludwig von Mises - Brasil ("IMB") é uma associação voltada à produção e à disseminação de estudos econômicos e de ciências sociais que promovam os princípios de livre mercado e de uma sociedade livre.
Em suas ações o IMB busca:
I - promover os ensinamentos da escola econômica conhecida como Escola Austríaca;
II - restaurar o crucial papel da teoria, tanto nas ciências econômicas quanto nas ciências sociais, em contraposição ao empirismo;
III - defender a economia de mercado, a propriedade privada, e a paz nas relações interpessoais, e opor-se às intervenções estatais nos mercados e na sociedade.
Questões:
- O futuro do €
- Como se pode contrariar a tendência de desindustrialização da Europa (a Alemanha é cada vez mais o último reduto industrial da Europa)
- Que medidas podem ser tomadas para contrariar o desemprego
- O declínio ocidental perante o oriente
Resposta: por Leandro Augusto - membro destacado do Instituto Mises Brasil
Desindustrialização se resolve com enfraquecimento dos poderes sindicais, redução de tributos, desburocratização e desregulamentação. Sindicatos agressivos que exigem privilégios crescentes devem ser domados, regulamentações governamentais devem ser abolidas, a carga tributária terá inevitavelmente de ser reduzida (ninguém quer pagar para trabalhar), fábricas e equipamentos envelhecidos devem ser substituídos (no que entra a questão tanto da desregulamentação quanto da redução de impostos), e a qualidade e o design de seus produtos deve ganhar maior atenção (no que entra a contratação de mão-de-obra mais bem preparada).
Em suma, é necessário criar um ambiente propício ao empreendedorismo. Isso também vale para o desemprego e para o declínio do Ocidente perante o Oriente (pelo menos economicamente; culturalmente, a coisa é bem mais complicada).
Quanto ao euro, é preciso renegociar a dívida, permitir vários calotes e deixar alguns bancos serem liquidados. Com isso, a oferta monetária do euro será reduzida e, consequentemente, ele sairá valorizado.
Explico:
Se houver o calote, os vários bancos da Europa que investiram nos títulos da dívida destes países sofrerão enormes perdas. Pensando em termos contábeis, haverá uma perda de ativos desses bancos, o que significa que eles terão também de reduzir seus passivos. E reduzir passivos significa contrair o número de contas-correntes.
Portanto, tal medida geraria uma deflação monetária na economia, pois, explicando novamente, após sofrerem essas perdas, os bancos têm de restringir novos empréstimos e requisitar a quitação antecipada de empréstimos pendentes, pois agora seu capital sofreu uma redução. Isso faz com que várias contas-correntes que foram criadas para esses empréstimos sem lastro sejam encerradas. E como o sistema bancário trabalha com reservas fracionárias, tal medida inevitavelmente iria gerar um processo deflacionário, pois se está requisitando a devolução de um dinheiro que foi criado do nada -- um dinheiro cuja criação expandiu a oferta monetária e cuja extinção contrai a oferta monetária.
Portanto, haveria uma redução na oferta monetária de euros, e isso deixaria o euro mais valorizado, e não menos.
Mas nada disso é politicamente viável. Logo, não há como saber o que de fato irá ocorrer.
que imbecilidade. valorizar o euro - exportar menos. não resolve o problema que é interno da zona euro, devido ás suas assimetrias, e piora os factores externos. Outra: a noção que a desindustrialização se resolve enfraquecendo os sindicatos é ridícula. na Alemanha, dada como exemplo, os sindicatos têm lugar na administração das empresas...
ResponderEliminarImbecilidade é não saber respeitar outras opiniões. Será que na China os sindicatos também têm lugar na administração das empresas? Temos um problema grave na Europa, que é cultural: Nenhum país vê com bons olhos ajudar financeiramente o vizinho, tal como as regiões do litoral Portugues se sentiriam prejudicadas se o seu orçamento fosse canalizado em grande parte para o interior.
EliminarPenso que temos 2 caminhos a seguir:
1) União politica, com perda de soberania das actuais regiões para melhor distribuir a riqueza. Portugal deveria apostar no turismo, na dinamização dos seus portos, e transporte de mercadorias de/para o centro da europa. O TGV até faria sentido, desde que servisse apenas para ligar portos portugueses aos grandes centros europeus.
2) Restringir a UE a apenas alguns países comparáveis entre si: Alemanha, frança....Com estas leis de livre concorrência, Portugal não tem hipóteses de concorrer nem pela qualidade nem pelo preço.
Muito facil chamar uma idéia de imbecil, não contrapô-la com argumentos, se resumindo, ao invés disso, a repetir a surrada cartilha mainstream.
EliminarCaro Ruben Nunes,
ResponderEliminarNão se esqueça do outro lado da balança as importações referente aos custos de energia (Petróleo, Gás, Carvão) e matérias-primas aí já interessa um € bem alto...
A Europa entrou num nível de produção industrial marcado essencialmente pela qualidade e inovação em detrimento da quantidade. São esses fatores conjugados com o marketing e design apelativo que farão a diferença.
Tenha atenção também à lei das vantagens comparativas, de David Ricardo. Cada país deve se especializar no que é bom e então fazer comércio entre si.
Sobre sindicatos, a Alemanha pode se dar ao luxo de tê-los por dois motivos: é o país mais rico da Europa, o que significa que é o que tem mais capital acumulado e, consequentemente, é o país cuja mão-de-obra possui mais produtividade. Sendo assim, os alemães podem se dar ao luxo de desperdiçar este capital sustentando exigências sindicalistas. Os outros países da região, menos ricos e menos produtivos, não têm esse privilégio.
A adoção do euro e, consequentemente, de legislações trabalhistas iguais para todos os países da região trouxe uma vantagem comparativa enorme para a Alemanha em detrimento de todos os outros países, os quais, justamente por serem mais pobres, têm menos capital acumulado e, consequentemente, são menos produtivos. Neste cenário de igualdade legislatória estabelecida à força, não tinha como a coisa ficar ruim para a Alemanha em termos trabalhistas, que é justamente o que estamos vendo hoje: a Alemanha possui um baixo desemprego ao passo que todos os outros países possuem desempregos astronômicos.
Resposta articulada com o Instituto Mises Brasil, por Leandro Roque.
igualdade legislatória, lol. Desde quando é que há uniformização da legislação de trabalho a nível europeu? não nego que a vantagem comparativa da alemanha é superior, devido principalmente ao baixo custo de transporte de mercadorias que possibilita a existência de escala e a consequente acumulação de capital - bem como a posição central que ocupa. quanto a "exigências sindicalistas" já não está a falar de economia, e sim de política.
EliminarRuben Nunes,
EliminarRecomendo a leitura deste post: vivendi-pt.blogspot.com/2012/01/porque-alemanha-abriu-mao-do-marco.html
Aqui vai uma parte do mesmo:
Certos grupos de interesse alemães tinham muito a ganhar com esse novo arranjo — a saber, o aprofundamento do processo de integração europeia, o qual incluía a harmonização os padrões trabalhistas, ambientalistas e tecnológicos. Com efeito, a introdução do euro reavivou o projeto europeu de um poder estatal centralizado.
A harmonização dos padrões trabalhistas beneficiou os trabalhadores alemães sindicalizados. As generosas leis trabalhistas alemãs — e seus concomitantes custos — só eram possíveis de ser mantidos por causa da alta produtividade dos trabalhadores alemães. Trabalhadores de outros países, como Portugal ou Grécia, tinham menos capital com o qual trabalhar, o que os tornava menos produtivos. Para poder competir com o trabalhador alemão, o português tinha de se contentar com leis trabalhistas mais brandas, o que reduziria o custo de sua mão-de-obra. Essa redução dos padrões trabalhistas —amplamente propagadas com o temeroso rótulo de "corrida ao fundo do poço" —ameaçava os altos padrões trabalhistas dos trabalhadores alemães. Trabalhadores alemães sindicalizados, acostumados aos seus altos padrões, não queriam concorrer com trabalhadores portugueses, para os quais tais padrões não se aplicavam. A vantagem competitiva obtida com a harmonização dos padrões daria aos alemães uma maior margem para ampliar seus poderes e privilégios.
A harmonização os padrões ambientalistas também beneficiou as empresas alemãs, pois elas já eram as mais ambientalmente eficientes. Empresas concorrentes de outros países, até então sujeitas a padrões menos rigorosos, tiveram de se adaptar a estes padrões mais custosos. Fora isso, os interesses do movimento ambientalista foram satisfeitos pela imposição dos padrões ambientais alemães sobre todo o resto da União Europeia. Como as empresas alemãs estavam na dianteira tanto em termos de cumprimento a imposições ambientais quanto em termos de tecnologia, essa regulação lhes trouxe enormes benefícios. A concorrência estrangeira foi suprimida. A imposição de padrões tecnológicos alemães à União Europeia deu aos exportadores alemães uma grande vantagem competitiva.
Relativamente a questão se é da economia se é da política, elas andam ligadas, pois sem boas políticas não existe boa economia... Só por isso ainda perco tempo com a política aqui no blog.
Cumprimentos.
Se há coisa que não existe e dificilmente existirá a curto prazo é harmonização de legislações laborais (ou trabalhistas) na U.E. A ideia de que a "Alemanha pode se dar ao luxo de" ter sindicatos por ser um país rico, consequentemente produtivo, e consequentemente pode sustentar exigências sindicalistas parece-me disparatada. Tente inverter os termos. A Alemanha é um país com empresas bem geridas por empresários eficientes e com visão de longo prazo que sabem que envolver os seus colaboradores o mais possível com as organizações só tem bons resultados para todos. Logo envolver os sindicatos é positivo também para os gestores e acionistas. É por isso (e mais algumas realidades relacionadas nomeadamente com a educação) que os trabalhadores alemães são mais produtivos, porque são bem geridos. E é por isso que a Alemanha se tornou um país rico. Em suma, em vez de País rico - logo produtivo - logo tem sindicatos fortes, a realidade não será um País bem gerido logo sindicatos fortes - logo trabalhadores produtivos - logo país rico? Isto pode ser comprovado pela observação de unidades de empresas alemãs noutros países como Portugal.
EliminarTambém li o livro do Sr Bagus. E o que me parece é que é mais um economista que defende a sua dama Austríaca, mas divaga muito em alguns aspetos. Dizer que a classe dominante alemã ficou contente por se livrar do Bundesbank... Enfim o Bundesbank ainda existe e o BCE foi feito mais à imagem do Bundesbank do que de qualquer outro banco central. E quando diz que "a introdução do euro nada teve a ver com um supremo ideal europeu de liberdade e paz, ao contrário: o euro nunca foi necessário para a liberdade e a paz, mas sim com poder e dinheiro"... onde é que o Sr Bagus pensa que anda, nalgum paraíso? Tudo tem a ver com poder e dinheiro. Mas se o Euro gerou conflitos falta avaliar que conflitos poderiam existir, hoje ou no futuro, se não tivesse ocorrido a introdução do Euro. Efetivamente todo o processo de integração Europeia foi lançado após a II guerra para evitar que houvesse uma nova guerra na Europa. A verdade é que quem só olha para o passado recente e numa perspetiva económica não vê que nunca a Europa teve um período de paz de mais de 50 anos como aquele que ainda hoje vivemos. Esperemos que assim se mantenha.
O Sr Bagus acerta em alguns fatores históricos importantes, nomeadamente no que se refere ao Euro com "moeda de troca" para a reunificação alemã. Mas o Euro foi essencialmente do interesse dos Estados menos ricos. O problema foi que estes não souberam tornar-se produtivos e aproveitar a oportunidade para se desenvolver. Adotaram padrões de consumo e de vida semelhantes aos do norte da Europa mas não o fizeram para os padrões de trabalho, organização e educação, e acreditaram que iam ter juros baixos para sempre graças ao Euro. Ou seja... são mal geridos. Paulo - Lisboa
Caro Paulo,
EliminarGosto pelos seus comentários!
Acerca do tema:
Veja-se o caso Auto-Europa, em que tivemos o caso de um sindicalista de cultura radical, que foi adaptado às regras laborais e produtivas alemãs, a própria Auto Europa vangloriava-se de ter uma legislação laboral acima das leis laborais portuguesa. Concerteza este exemplo alemão existe em muitas multinacionais espalhadas pela Europa. Apesar das leis ainda não serem totalmente harmonizadas é mais aquilo que nos une que nos separa, e as exigências da troika também assim o demonstram.
Sabemos também, que na Alemanha existe uma cultura de trabalho de integração e envolvimento entre todas as partes, o chamado sistema horizontal em detrimento do sistema vertical, aplicado pelos países de sul e rejeitado pelos países do norte.
Acerca do bundesbank, quanto não valeria hoje um marco alemão? Quanto dos alemães não têm saudade do mesmo... O bundesbank fez cultura sim no BCE, mas a monetarização da dívida já arrancou com Mário Draghi e em força e já houve alemães que se afastaram da direção.
Também considero que vivemos num mundo de Poder e Sexo, alojo o dinheiro a uma das características de afirmação de poder...
Acerca do €, hoje podemos ver claramente que países ganharam e que países perderam com a introdução da moeda, em apenas 10 anos.
Por fim julgo que a Alemanha se mantém ainda no €, para segurar a coesão social na Europa.
O maior problema da Europa é a existência de vários pensamentos e abordagens e não emanar um só pensamento articulado e uma falta de liderança democrática.
Aguardaremos as cenas dos próximos capítulos, tragédia grega em andamento...
Esperemos que a Europa encontre novamente a sua paz de espírito.
Cumprimentos.
vejam: grade seguidor da escola austriaca: Peter schiff - http://www.youtube.com/watch?v=2I0QN-FYkpw
ResponderEliminarvejam: grande seguidor da escola austriaca: Peter schiff - http://www.youtube.com/watch?v=2I0QN-FYkpw
ResponderEliminarGosto especialmente da penultima frase do artigo: "Mas nada disso é politicamente viável". É típico da escola austríaca: tem umas teorias muito bonitas e alguns teóricos até conseguem transmitir aos menos atentos a impressão de que tudo aquilo funcionaria na prática.
ResponderEliminarComo deve saber a escola austríaca não é o modelo económico que predomina atualmente na sociedade... E eles observam o desenrolar da crise desde 2006 e avisam para o perigo da moneterização da dívida. Tem partes de suas teorias económicas que são usadas e outras que já foram usadas com sucesso.
EliminarAconselho qualquer um a estudar as suas ideias... Apoiadas num princípio simples: liberdade, propiedade, paz
Cumprimentos.
Boa discussão!
ResponderEliminarSó quero acrescentar que nenhum dos senhores atendeu à inutilidade das acções dos Sindicatos Portugueses.
Mas eles algum dia ou em alguma decisão têm visão de longo prazo para o trabalhador? Eles só destroem ideias quer sejam boas ou más e não contribuem para o avanço do país. Para além de só se interessarem na continuação do bem estar dos próprios sindicatos.
Depois de todos os corruptos que este país conhece, são eles os principais entraves ao desenvolvimento e crescimento de Portugal. Minam e mimam a mentalidade dos Portugueses, que bem lhes sabe ouvir aquelas palavras! Mas como mais de metade da população só pensa no dia de hoje e não no amanhã, nada disto mudará.
Tenho esperanças que a nova geração dos 80's e 90's traga pessoas mais abertas de espirito e que os milhares de cursos que se tiraram sirvam para mudar a mentalidade do país.
Digo isto sem conhecer sindicatos alemães, mas duvido que tenham caracteristicas parecidas com os nossos. Mas lá está, os sindicatos Portugueses reinvidicaram muita coisa nos anos 90 enquanto havia dinheiro, e conseguiram-no. Neste momento reivindicam o mesmo quando não há dinheiro e não percebem que é uma causa perdida. Deviam ir por uma outra via mais construtiva, atendendo ao que Portugal se propôs com a troika, quer se goste ou não. Os Sindicatos do Norte da Europa têm outro tipo de poder, responsabilidade e acima de tudo (perdoem-me a frontalidade) estão conetados com outro tipo de partidos politicos, o que muda tudo.
Estou errado?
Por fim, sem perceber ainda muito da escola Austriaca, sou cada vez mais adepto da mesma. Teorias? Sim. Sem aplicação pratica? na sua totalidade, sim, porque nunca serviu interesses de privados milionarios, e com isso também não gerou apoios politicos, apenas isso.
Antes do modelo Keynesiano também nunca se tinha tentado essa via e no entanto salvou o mundo em certas alturas mas já se viu que num mundo globalizado não é favoravel a todos os países.
É uma questão de aplicarmos e talvez adaptarmos um modelo ao outro!
Chamem-lhe o que quiserem mas liberdade, propriedade, honestidade, poupança e crescimento sustentavel deviam ser as novas "Liberté, egalité, fraternité" para o futuro!
Cumprimentos
Caro Vazelios,
EliminarAgradeço a sua participação ativa aqui no blog.
Sobre o tema em análise, subscrevo as suas ideias...
O modelo Keynesiano apresenta-se realmente como um modelo em fim de linha. Em breve apresentarei novos posts refutando as suas teorias.
Para o sucesso de uma sociedade o mais importante é o próprio sucesso, ou seja, o sucesso das ideias e não de ideiais ou ideologias.
Cumprimentos.
"conotados"
ResponderEliminar