Por John Browne,*
Na primeira semana de setembro, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou aquilo que vários ao redor do mundo esperavam que ele anunciasse: um plano que permitiria ao Banco "fazer todo o necessário" para dar sustentação ao euro. Sem nenhuma surpresa, as bolsas nos EUA e na Europa subiram vigorosamente em decorrência da sensação de que o BCE havia finalmente se juntado em definitivo ao Fed para que ambos coordenassem seus esforços de reflacionar suas respectivas economias por meio de uma infinita criação de dinheiro.
Vários analistas e comentadores económicos saudaram a nova posição do BCE como se ela representasse uma fundamental e inegável derrota para o Bundesbank, o banco central alemão, ferrenho e inflexível defensor da austeridade monetária na zona do euro.
A realidade, no entanto, parece ser um pouco diferente do que se imagina.
O novo plano do BCE contém várias concessões ao ponto de vista da Alemanha. Talvez a mais importante seja a revogação do objetivo anterior do BCE, que era o de 'estipular um teto' para os juros dos títulos dos países membros da zona do euro. Em vez do compromisso aberto de agir como um ilimitado "comprador de última instância", o que faria com que os juros dos títulos de países problemáticos se mantivessem artificialmente baixos, o novo plano agora estipula condições bem mais estritas e uma seletividade muito mais rigorosa para a compra de títulos — bem ao estilo alemão.
Houve também várias outras grandes concessões à Alemanha. As principais:
- Qualquer país membro da zona do euro que queira recorrer ao BCE para que este compre seus títulos no mercado secundário — ou seja, quando os títulos estão em posse do sistema bancário — terá de fazer um pedido formal por escrito. Naturalmente, tal requerimento público trará custos políticos, constrangimento, desconfiança e até mesmo uma mácula para o governo em questão. Considerando-se que os preços de ativos, como ações e títulos públicos, são influenciados pela percepção, tal pressão irá dissuadir vários países de recorrerem a esta medida.
- Todo e qualquer país requerente terá de concordar em apresentar uma redução germânica em seus déficits e um completo programa de reestruturação econômica, ambos os quais provavelmente virão acompanhados de grandes custos políticos e uma grande dose de turbulência econômica no curto prazo.
- O BCE irá comprar títulos no mercado secundário para ajudar países problemáticos somente se o Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, ambos os quais estão bastante carentes de recursos, se comprometerem a atuar em conjunto e utilizar seus fundos na operação. O Bundesbank há muito tempo vem afirmando que o BCE não deve ter carta branca para abusar de seu poder de criar dinheiro artificial. Sempre que isso for feito, os custos serão espalhados para o resto da Europa e também para o resto do mundo através do FMI.
- O apoio do BCE será limitado à compra de títulos com vencimento máximo de três anos. Desnecessário dizer que nenhum membro problemático da zona do euro conseguirá resolver seu problema de endividamento excessivo caso se limite a tomar continuamente empréstimos de curto prazo na esperança de que esta ação do BCE irá ajudá-lo.
- Todas as compras de títulos realizadas pelo BCE serão executadas exclusivamente no mercado secundário, desta forma realizando o objetivo alemão de fazer com que o BCE não permita que um país seja compulsoriamente obrigado a financiar diretamente qualquer outro membro da zona do euro.
Enquanto vários comentadores económicos conjeturaram que a Alemanha havia finalmente cedido às demandas keynesianas de dinheiro farto e barato de seus países vizinhos, a realidade parece indicar o contrário: a Alemanha foi especialmente bem-sucedida em impor sua vontade financeira ao resto da zona do euro.
Estas substanciais e importantes concessões feitas à Alemanha passaram amplamente despercebidas pela grande media. Longe de oferecer um alívio instantâneo aos países devedores da zona do euro, o novo pacote tornará mais provável uma austeridade de inspiração alemã. Esta austeridade, caso seja feita por meio da típica elevação de impostos — em vez do corte de gastos — fará com que a recessão na Europa continue, ao menos no curto prazo. Isso, por sua vez, fará com que os bancos centrais da Europa e de todo o continente americano continuem injetando dinheiro em suas economias. E isso pode ser bom para quem investiu em metais preciosos.
A continuidade da fraqueza econômica da Europa pode, por sua vez, estimular políticos europeus e até mesmo seus eleitores a aceitarem um controle político alemão cada vez maior em troca daquilo que poderá acabar sendo visto como um financiamento direto e 'redentor' da Alemanha. A principal implicação de curto prazo dessa vitória alemã será a continuidade da recessão caso a austeridade se dê por meio da elevação de impostos. Já os resultados de longo prazo do controle alemão do continente europeu são bem mais difíceis de prever.
Qualquer investidor ou mero curioso que queira tentar entender as maquinações políticas, econômicas e financeiras da zona do euro e da União Europeia faria bem em concentrar-se nas ações alemãs, as quais são frequentemente ocultadas pelos pronunciamentos do BCE. Muito frequentemente, as posições e ações que realmente importam são completamente negligenciadas pela grande media.
artigo publicado aqui
*consultor económico sênior da Euro Pacific Capital, Inc., corretora de Peter Schiff.
Não me espanta nada este artigo... Vai de encontro ao que me parece a questão de fundo: a Alemanha quer o Euro, e um Euro forte (sem imprimir), moldado à imagem do velho Marco (DM)!
ResponderEliminarOs americanos vêem isso como a mais séria ameaça ao dólar e à sua hegemonia, e, por isso, através dos seus "hit-man" (Goldman Sachs, etc) começaram a minar alguns dos países mais vulneráveis do sul da Europa... e depois exportaram a sua "bolha do crédito/dívida", para esses países (via agências de rating, grandes fundos mobiliários, grandes instituições financeiras de Wall Street, grandes instituições financeiras internacionais, e grandes multinacionais).
Aproveitaram as fragilidades de construção da moeda única (que foi criada nas condições possíveis na altura: sem união fiscal e orçamental) e especularam com as divisões entre povos europeus (apostaram que era mais o que os dividia do que o que os unia).
Quase conseguiam… a Alemanha ficou encurralada, pois queria manter o Euro forte (sem imprimir), mas também sabia que não tinha dinheiro suficiente para socorrer os países do sul…
Então que fazer? Imprimir, e fazer o que os americanos sempre exigiram (enfraquecendo o Euro)?
Não! Resistir à saída fácil do “quantitative easing”, e ir ganhando tempo, e dinheiro, e mecanismos de controlo para futuro!
Ao mesmo tempo, os países do sul esvaiem-se em sangue e ficam “ligados à máquina”… É verdade (que o diga a Espanha, que ficou mesmo em risco de implosão).
Mas também lhes serve de expiação (reconhecimento de erros, mudança de mentalidades) e facilita a adesão ao projecto final: uma EUROPA FEDERAL (made in Deutschland). Com o rigor, austeridade e fiabilidade alemãs!
GRAÇAS A DEUS! (espero não estar enganado, e ser este o novo desafio estratégico da Alemanha: depois da grande Alemanha, a gora a grande Europa! É que se não for essa a nova aposta/intenção da Alemanha, Portugal terá um destino catastrófico: face às suas bases culturais, ausência de recursos e situação económica construída nesta última geração).
Só não gosto é do "poker" que o povo Grego (que também terá percebido este grande desígnio alemão) decidiu passar a jogar com a Alemanha! :(
ResponderEliminarÉ que eles não são essenciais neste projecto de grande Europa (seria óptimo, até pelas raízes históricas, que estivessem dentro, mas não são essenciais).
E, por isso, se se vir obrigada a deixá-los cair, a Alemanha deixa.
O pior é que a seguir somos nós!...
É disto que o nosso governo tem medo (e fazer ver à Alemanha que quer "mudar de vida").
Mas não está fácil, com a nossa mentalidade/sociedade...
Não sei se não vamos mesmo perder a carruagem...
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ResponderEliminarA sua análise faz todo o sentido Carlos Antunes e o objetivo maior do projeto europeu é a Europa Federal.São idiotas ou hipócritas aqueles que hoje fingem espantar-se com isso. Julgo que não há perigo de nos mandarem a nós e à Grécia pela borda fora; eles vão carregar-nos às costas. Claro que a teoria dos efeitos não pretendidos pode dar um ar da sua graça e uma borboletinha bater as asas e provocar um tsunami. Aguardemos.
ResponderEliminarMuita invenção por parte do Carlos Antunes
ResponderEliminarPrimeiro a Alemanha não queria o Euro, foi obrigada a aceitar-lo como preço da Unificação Alemã,como inteligentes que são não iam aceitar a qualquer preço e negociaram de forma a ver os seus interesses da melhor forma possível protegidos,
foi aceite uma BCE do estilo Bundesbank por um simples motivo, era o único com a credibilidade necessária para a existencia da moeda, o francês nem pensar, só ver a vergonha de politica monetária seguida por este.
Sim verdade que os americanos tem medo de moedas que possam por em causa o actual status quo, mas o seu exército é o que mantém o seu dólar como reserve currency é o preço que os países pagam pela protecção americana.
OS americanos não exportaram nenhuma crise, é dizer asneiras, o que acontece é que os USA tem o mercado bolsista mais desenvolvido do mundo, e lá investem investidores de todo o mundo.
Estudar a crise do subprime para perceber o que de facto se passou, foi mais ou menos isto, o greespan ao baixar as taxas de juro para nível historicamente baixo 1%, e com mudanças na lei operadas no tempo de Clinton as exigencias a nível bancário baixaram, e como o preço das casas desde a 2GM aumentavam sempre estavam criadas as condições para um bolha imobiliária, e esta foi crescendo, era desporto nacional fazer o house fliping isto é, comprar e vender por lucro.
Como o preço aumentava sempre as famílias viram o seu imóvel como uma ATM, podiam rehipotecar, refinanciar multiplas vezes,
Como a necessidade de crédito por parte das famílias e empresas era voraz os Bancos começaram a construir veículos que permitissem uma maior captação de dinheiro, e começaram a fazer hedging, isto é, dispersar o risco, através dos veículos CDO (Colateral Debt obligation)
o seguinte link explica muito bem o que são
http://en.wikipedia.org/wiki/Collateralized_debt_obligation
O goldman e companhia fazia estes veículos mandava para as agências de rating estas tendo a trabalhar lá pessoas menos capazes que nos bancos, não percebiam bem o que estavam a analisar davam o rating de triple A e este era comprado por fundos de pensões, cidades etc.. que procuravam investir em activos sem risco, e foi assim (explicação muito supérflua) que o risco foi exportado, além que quando os bancos perceberam que o castelo ia ruir apostaram na queda do mercado
Com os CDS (credit default swaps) os bancos asseguravam que o incumprimento não seria problema, a AIG foi isso que fez segurou hipotecas rançosas que iriam sempre quebrar.
Não houve nenhum plano para arrebentar com a ZE através da bolha, foi o que aconteceu devido À globalização.
Sabe que o Deutsche bank foi um player activo na crise do sub prime?
A Espanha tinha uma bolha imobiliária como os USA, que arrebentou quando o sistema financeiro mundial se fechou,
ResponderEliminarA Grécia contratou o Goldman para falcatruar as contas para poder aderir ao Euro
Com economias com o nível de interdependencia que hoje existe, se existe problemas numas reflectem se noutras.
O que aconteceu foi que a teoria keynesiana de imprimir e gastar dinheiro para alavancar a procura agregada de forma a que a economia arranque foi levada por diante e causou foi que a crise passa-se do sector bancário para o sector público.
O que aconteceu foi que como as agÊncias de rating tinham ficado muito mal na foto, começaram a ser muito mais rigorosas na sua análise e os fundos etc... olharam para as contas e perceberam que a Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha tinham todos dividas monstruosas e começaram a questionar da capacidade de estes pagarem as dividas, isto revelou se pelo aumento das taxas de juro.
As obrigações do tesouro dos países eram vistas como activos sem risco, e essa crença foi posta em causa, e com a Grécia foi destruída.
É treta pegada o que os mais divida que os unia, o problema é que os países não querem pagar dividas que não contraíram, e com razão.
O caso da madeira, em Portugal foi um grande problema, ninguém quer e queria ter de pagar pela divida dos madeirenses, se nós temos problemas em pagar dividas de portugueses, porque ficamos tão escandalizados pela mesma atitude dos holandeses?
O caso da catalunha é evidente,
A Alemanha tem uma escola economica diferente da americana e inglesa são formas de ver os problemas e soluções diferentes, querem uma moeda forte, porque sabem que tem vantagens.
Os americanos não querem um euro fraco, antes pelo contrário, estes seguiram uma politica de desvalorizar o dólar de forma a ganharem competitividade preço, politica beggar my neighbour.
Saida fácil do QE???
Mas os americanos já vão no 4(lembras operação TWIST) e a economia definha não arranca, e vão fazer o QE5,6,7,8,9
Mas quem é que contraiu dividas de 300% do PIB?
Mas as pessoas estão parvas, mega estado europeu?
Mas qual é o seu problema? Quer agora que haja ainda mais roubo?
Já não lhe chega o roubo que é perpetrado pelo Estado português ainda quer mais o europeu?
Mas alguém perguntou aos cidadãos se querem pertencer a um Estado Europeu?
Deus queira que os Alemães arrebentem com o Euro, se é para termos mais Estado, mais regulações estupidas, mais impostos.
Filipe a desorientação é tão grande, que as pessoas vão aplaudir o mega estado europeu. A incapacidade dos nossos políticos é confrangedora e mesmo quando apresentam alguma solução não conseguem defendê-la. Não esqueça que a maioria das pessoas não entende nada do que se passa à sua volta, muito menos é capaz de analisar os acontecimentos como o Filipe o faz. O maior perigo que nos cerca é o populismo e ele está aí ao virar da esquina.
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