"Estamos
hoje numa situação má. Di-lo toda a gente e era escusado: na vida
individual, na qualidade e na pública as dificuldades que dessa má situação
resultam sentem-se, palpam-se, todos nós lutamos com elas.
Vamos
relacionar, para melhor ajuizarmos, todo este mal-estar, com quatro problemas
fundamentais: o financeiro, o económico, o social e o político. Pu-los por esta
ordem e isso não foi arbitrário da minha parte; esta simples disposição revela
uma orientação definida.
È
certo que não é possível fazer boas finanças sem boa política: que uma finança sã requer uma economia
próspera; que a questão social; agravada por sua
vez, prejudica os problemas financeiros e económicos.
Mas,
porque não podemos resolvê-los todos de uma só vez, necessário é discutir e
assentar na ordem e solução. Essa ordem será indicada, na interdependência das
causas e dos efeitos dos problemas, em harmonia com a causa dominante. É sabido
que as emissões exageradas desvalorizam a moeda. E o que è essa desvalorização?
É o metro elástico introduzido na vida económica. Suponhamos um comerciante a
vender com um metro elástico. Acontecia que umas vezes ficava roubado o freguês
e outra seria prejudicado o comerciante. Pois as altas e baixas das moedas
opera delapidações semelhantes. Com uma moeda instável não há economia que
vingue e possa prosperar. Por este processo se tornou o Estado o grande inimigo
da economia nacional.
Atravessamos
uma grave crise económica, cujas principais causas foram essa instabilidade
monetária, a alta dos juros do dinheiro e a escassez provocada pela
desvalorização da moeda, que ao mesmo tempo que opera na sociedade
transferências de fortunas, consome em geral grandes somas de capitais. O
comércio e a indústria tiveram durante algum tempo disponibilidades enormes:
parecia que os comerciantes não acabavam de enriquecer.
Todas as empresas
pareciam prósperas; afinal muitos vieram a verificar que se tratava de riqueza
ilusória e estavam na verdade empobrecidos: tinham distribuído e gasto o seu
próprio capital. Salvaram-se das despesas apenas aqueles que em dada altura
conseguiram converter os lucros em valores estáveis.
E o
Estado, que perdeu muito, ganhou também alguma coisa – a diminuição da sua
dívida corresponde ao valor em que lesou os seus credores.
Todos
estes males têm somente uma cura – a estabilização da moeda, e esta é
impossível. Independentemente da solução do problema financeiro. Da não
resolução do problema financeiro e económico resultou como não pode deixar de
ser, graves perturbações sociais.
O
problema social é o problema da distribuição de riqueza, que não tem solução
vantajosa sem o aumento da produção. Salvo o caso de parasitismos económicos,
que devem ser evitados e corrigidos, só o aumento de riqueza pode favorecer a
solução da questão social.
Finalmente,
o problema político. Andamos há muitos anos em busca de uma fórmula de
equilíbrio e ainda não conseguimos encontrá-la.
É como se diz que “em casa onde não há
pão todos ralham e ninguém tem razão”, as soluções políticas são mais difíceis
estando agravados os problemas financeiro, económico e social. Não há mesmo formas políticas que
satisfaçam uma sociedade em que aqueles problemas estão a reclamar urgente
solução, porque a verdade é que encontrar a fórmula de equilíbrio depende da
organização prévia das diferentes forças económicas e sociais."
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