quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Já saímos do €?


Só temos é uma montanha de dívidas para pagar em €uros...




“O consumidor procura uma nova frugalidade”
















Rendimento das famílias está nos valores de 1999


A vida está mais cara e os portugueses estão mais pobres. Foram cortados subsídios, aumentaram os preços. O professor Pedro Dionísio, do ISCTE, explica como estas mudanças estão afetar profundamente os hábitos de vida.


O dinheiro que hoje temos para gastar é inferior ao que tínhamos há 12 anos.  As famílias estão a ver o seu nível de vida a recuar anos: primeiro, devido à crise mundial, que estalou em 2008, e, mais recentemente, a queda acentuou-se, com o pedido de ajuda externa em 2011. 

De acordo com os dados da Pordata e do Instituto Nacional de Estatística (INE), nessa altura, um agregado familiar tinha, em média, 2.111 euros em rendimento disponível, depois de descontados os impostos, dividido por 14 salários anuais. 

Desde esse ano, as quebras foram mais frequentes que os aumentos, contrariando o aumento da inflação, com excepção nos anos em que o Governo de José Sócrates subiu os salários da Função Pública. Essa medida levou a que, em 2010, cada família tivesse, em média, 2.188 euros para gastar por mês, mais 77 euros que dez anos antes. Mas foi sol de pouca dura.

Em 2011, ano em que a “troika” entra em Portugal, há registo de nova queda, acentuada: de 2.188 para 2.055 euros. De um ano para o outro, os portugueses perderam, pelo menos, 133 euros mensais.

“Consumidor procura uma nova frugalidade”Com pouco mais de dois mil euros mensais, num orçamento doméstico corrente, é forçoso fazer mais com menos dinheiro. A realidade das famílias portuguesas levou a uma profunda mudança nos padrões de consumo, como explica o professor de Marketing Pedro Dionísio, do ISCTE-IUL. 

“É um consumidor que procura uma nova frugalidade”, diz. “É mais racional e tende para um consumo mais virado para responder às suas necessidades mais básicas e evitar situações supérfluas.”

“Os padrões estão claramente a mudar”, acrescenta Pedro Dionísio, exemplificando: “Na área alimentar, que talvez seja a mais visível, vemos uma procura mais racional. Há outras áreas em que os consumidores tinham gastos relativamente elevados e essas é onde existe contração devido à retração do poder de compra - como por exemplo, a área da saúde, os transportes ou o entretenimento”.

Desde há uma década subiram os impostos, os preços dos bens alimentares, os preços dos transportes, dos combustíveis, da luz, gás e água, das rendas e o custo de vida em geral, e com a entrada do Governo de Passos Coelho em 2011, as mudanças foram muitas e gravosas para a maior parte das famílias. 

Foram cortados subsídios, aumentaram os preços dos transportes em média em 15%, aumentou o IVA no gás e eletricidade de 6 para 23%, houve uma sobretaxa extraordinária no IRS, o IVA aumentou também nos bens de consumo e aumentaram os impostos sobre automóveis e imóveis. 

“Em relação a bens duradouros, há uma tendência para prolongar a sua vida útil”, diz o professor. “As pessoas preferem agora manter aquilo que tem do que atualizar os equipamentos”, constata.

E em 2012, volta a ser mais caro viver em Portugal, com novos aumentos na luz e nos transportes. Para 2013, as notícias também não são boas. A salários mais baixos em geral, cortes de subsídios e mudanças nas remunerações de trabalho extraordinário e em dia feriado, acrescenta-se a misteriosa medida que incide sobre o IRS, aprovada em Bruxelas mas desconhecida à maior parte do país. 

Menos dinheiro, mais despesas Os últimos dados do INE, relativos ao segundo trimestre de 2012, mostram que o rendimento médio mensal líquido dos portugueses que trabalham por conta de outrem é de 808 euros. 

A falta de dinheiro no bolso leva também a que as empresas e os bancos mudem de estratégia face aos consumidores. “Uma mudança grande tem sido feita pelos bancos no sentido de fazer campanhas pedagógicas para alterar hábitos e valores por parte dos consumidores, nomeadamente, apelando muito mais à racionalização e até à poupança”, aponta Pedro Dionísio. 

Entre 2010 e 2011 o poder de compra dos portugueses também se degradou face à média europeia. Se, há dois anos, os salários estavam mais próximos dos praticados nos parceiros europeus, 81% da média, no ano passado caíram mais, arrastando o poder de compra para 23% abaixo da média europeia.

“Temos vindo a assistir simultaneamente a campanhas, por exemplo de hipers e supermercados a nível nacional, mas também por parte outras marcas a procurarem criar soluções que vão ao encontro do consumidor, seja em packs de produtos, seja a encontrar embalagens de acordo com a dimensão das famílias. Isto é outra forma de ajudar a responder a um novo contexto”, diz o professor.

Nas contas do Governo, a nova diminuição do rendimento disponível, a par do desemprego-recorde, irá levar o consumo privado a recuar 2,2% em 2013, depois de uma queda de 5,8% este ano – mas as projeções do Banco de Portugal apontam valores mais altos em ambos os casos.

Mais microondas, menos carros e carne de vacaCuriosamente, desde há dez anos para cá, aumentaram substancialmente os equipamentos “essenciais” nas casas portuguesas. Por exemplo, enquanto em 2000 apenas 33% da população possuía um micro-ondas, hoje já 83% das famílias tem um em casa. Além do fogão e do frigorífico, dois equipamentos já fixos nas casas há muitos anos, hoje a percentagem de famílias que tem máquina de lavar a loiça subiu 24%. 

“O número de equipamentos no lar aumentou muitíssimo ao longo das últimas décadas. Se pensarmos na casa dos nossos avós, praticamente não existiam electrodomésticos”, lembra Pedro Dionísio.

Ainda mais destacada é a diferença do número de casas que tinha computador em 2000, 21%, enquanto em 2010 já quase 60% dos agregados o possuem. Quanto às aquisições de bens duradouros como os automóveis, computadores, máquinas fotográficas, televisores e outros electrodomésticos, tiveram uma queda de quase 32% no quarto trimestre de 2011 relativamente ao ano anterior.

E para fazer face à crise, os portugueses estão a poupar no supermercado. Há 18 meses consecutivos que a compra de bens alimentares está a diminuir. O consumo de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas registaram uma diminuição significativa, com destaque para a queda do consumo de carne de vaca, sendo a carne de aves, mais barata, agora preferida. 

Na categoria de produtos não alimentares, as vendas baixaram 24% no segmento de entretenimento e papelaria, 15,3% nos bens e equipamento e 10,6 % no sector do vestuário.

O professor do ISCTE explica como também no sector do lazer, os hábitos estão em mudança. “Na área do entretenimento, a solução passa agora por oferecer experiencias marcantes, fortes. Temos visto nesse campo florescerem empresas que apresentam experiencias mais  ou menos únicas para um consumidor de classe medias, coisas como a Vida é Bela e a Odisseia”, exemplifica.

“As pessoas podem-se dar ao luxo de, apesar de terem de fazer sacrifícios durante o ano, haver um dia que dão a esse prazer de ter alguma coisa que não é o habitual do dia-a-dia”, finaliza.


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