A pauperização histórica de Portugal
Se as pessoas são na generalidade avessas ao raciocínio especulativo, são-no em absoluto à projecção estatística e à quantificação interpretativa, teimando em não querer ver a evidência daquilo que, sabem, contraria lugares-comuns, crenças e mitos profundamente ancorados. Há alguns anos, no mestrado em Geopolítica e Geostratégia, comecei a trabalhar com tabelas de avaliação de poder dos Estados. Se é certo que o Produto Interno Bruto não faculta, por si, mais que informação genérica que requer comparação com outros dados, permite situar o nível de riqueza das nações e, assim, garantir maior legibilidade ao sistema internacional e às relações de poder existentes entre os actores.
Se analisarmos a posição de Portugal no mundo, entre 1500 e 1820, isto é, entre o início da construção do Estado moderno e a Revolução Liberal, verificamos que Portugal oscilou entre a 7ª e a 9ª posições, ou seja, o lugar ocupado pelas grandes potências. Depois, entre 1870 e 1913, decaiu para o segundo grupo dos Estados ditos médias potências. A República atirou-nos para a condição de pequeno Estado, posição revertida entre 1950 e 1973, mercê de sólidas políticas genéticas de transformação económica. Em 1973, Portugal era, em termos comparativos, o 14º mais rico actor económico mundial. Trinta anos depois, cheios de nós - europeus, grandes consumidores - éramos o 39º, em 2017 seremos o 52º e em meados do século que corre estaremos na 73ª posição, atrás do Bangladesh.
Há que fazer uma leitura política dos dados. Não o fazer é enterrar a cabeça na areia e atalhar o caminho para a absoluta insignificância.
Produto interno bruto
1500: Portugal na 12ª posição (tabela Madison), de facto 7º.
1600: Portugal na 14ª posição (tabela Madison), de facto 9º.
1700: Portugal na 12ª posição (tab. Madison), de facto 8º.
1820: Portugal na 13ª posição (tab. Madison), de facto 9º.
1870: Portugal na 15ª posição
1900: Portugal em 21ª posição
1913: Portugal na 20ª posição (ponderada)
1938: Portugal na 23ª posição (tabela Bairoch 1830-1938)
1950: Portugal em 16ª posição
1973. Portugal em 14ª posição
2005-2011: 39ª posição
2017: 52ª posição (estimativa 2010-2017)
2050: 73ª posição
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Palavras para quê?
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