quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Previsões
Previsão
do banco Nomura
Economia vai contrair até 2014 e dívida pública
será reestruturada
O Nomura acredita que a economia portuguesa vai contrair nos próximos dois anos e que tenha de recorrer a novo pacote de financiamento, com possível reestruturação da dívida. O banco prevê que a economia contraia 4,4% em 2012 e 2,7% em 2013 e que Portugal negoceie um novo programa de financiamento ainda este ano.
"As dinâmicas de endividamento são menos dramáticas do que na Grécia, por isso estimar o potencial 'haircut' é difícil", ressalva o banco de investimento japonês. "No entanto, o baixo potencial de crescimento, elevado nível de subordinação e elevados riscos fiscais ainda podem resultar numa reestruturação coerciva da dívida", acresce a nota de investimento.
O Nomura acredita que a economia portuguesa vai contrair nos próximos dois anos e que tenha de recorrer a novo pacote de financiamento, com possível reestruturação da dívida. O banco prevê que a economia contraia 4,4% em 2012 e 2,7% em 2013 e que Portugal negoceie um novo programa de financiamento ainda este ano.
"As dinâmicas de endividamento são menos dramáticas do que na Grécia, por isso estimar o potencial 'haircut' é difícil", ressalva o banco de investimento japonês. "No entanto, o baixo potencial de crescimento, elevado nível de subordinação e elevados riscos fiscais ainda podem resultar numa reestruturação coerciva da dívida", acresce a nota de investimento.
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Partidocracia
Artigo viral encontrado nos fóruns da net (autor desconhecido)
1) PARLAMENTO: A CASA DA PARTIDOCRACIA
Desde o início da "democracia" que a qualidade dos partidos portugueses tem caído sempre, estando hoje ao nível do Lixo. Os portugueses não têm controlo sobre os seus políticos. A "casa da democracia" é na realidade a casa da partidocracia. O "julgamento nas urnas" é um logro, pois os candidatos colocados nos primeiros lugares das listas (mesmo as perdedoras) têm garantia prévia de que vão para o parlamento. Não há julgamento sem punição, mas os portugueses não têm oportunidade de punir os primeiros lugares das listas. Podem ser espiões, maçons ou outra coisa qualquer: não interessa. A ida para o parlamento não depende dos votantes. A raiz do problema é a ausência do voto nominal no sistema eleitoral.
2) EM
ELEIÇÕES DEMOCRÁTICAS NÃO HÁ VENCEDORES ANTECIPADOS
Os portugueses não têm os direitos democráticos dos outros europeus. A ordem das listas dos partidos é essencial... mas é imposta! Não figuram no boletim de voto e é impossível escolher um membro da lista e votar especificamente nele. Daí os lugares elegíveis: os primeiros lugares dão aos candidatos a garantia de que vão ser deputados, independentemente das preferências dos eleitores. O cenário é sempre o mesmo: semanas antes de ser deitado o primeiro voto, parte do elenco parlamentar já está decidida. Como não existe uma relação entre o voto e a atribuição dum lugar de deputado, os deputados não representam os eleitores. Seguramente representam alguém, mas não é quem vota.
3) VENCEDORES ANTECIPADOS PROPICIAM A CORRUPÇÃO
As consequências deste sistema são muitas e graves: A) Os barões dos principais partidos vivem na perpétua impunidade. Sabem que não podem ser desalojados do parlamento pela via dos votos. Mesmo quando a votação do partido está em baixa, têm muitos "lugares elegíveis" para onde se refugiar. B) CORRUPÇÃO: os lóbis contornam o eleitorado e agem diretamente sobre os oligarcas do parlamento para fazer valer os seus interesses. Na prática, são os lóbis que têm representação no parlamento, não os eleitores. C) Cria-se o "fosso" entre políticos e o "País Real". Cresce um sentimento muito pouco saudável: quando em dúvida, um político deve ser considerado um vigarista.
4)
IMPEDEM-NOS DE FAZER A NOSSA PARTE NA RENOVAÇÃO DOS PARTIDOS
D) A ausência de voto nominal bloqueia a renovação interna dos partidos. "Renovação" é uns serem substituídos por outros. É o papel do eleitorado indicar quem vai e quem fica, através dos atos eleitorais. A maneira natural e democrática de conduzir a renovação é que os novos políticos que têm mais votos ascendam gradualmente às chefias dos partidos. Mas com um sistema eleitoral que impede os eleitores de expressar preferências dentro duma lista, o que realmente se faz é impedir o eleitorado de exercer o seu papel na renovação dos partidos. Em consequência, perpetuam-se os caciques e apenas os que têm a sua anuência sobem nas estruturas partidárias
5) OS
PARTIDOS NÃO ESCOLHEM BONS DEPUTADOS
O monopólio na ordenação das listas tem produzido elencos parlamentares altamente desequilibrados. Há cerca de um ano, João Duque afirmou na televisão ter examinado o CV de cada um dos deputados e constatado que nenhum teve experiência de integrar os quadros de administração duma empresa. Os desequilíbrios são nítidos a muitos níveis, por exemplo na representação desproporcionada de maçons e advogados. É pensar nas frequentes cenas embaraçosas envolvendo deputados. Não é difícil imaginar que se fossem os eleitores a ordenar as listas, a qualidade dos elencos parlamentares subiria. Mesmo que assim não fosse, há a questão de princípio: escolher os deputados é um DIREITO do eleitorado.
6)
LISTAS: ZONA DE CONFORTO DOS BOYS
E) Não é por acaso que os políticos nunca falam do sistema eleitoral. Não querem que os cidadãos se apercebam do que está errado e comecem a exigir mudanças na sua "zona de conforto". Sem escrutínio democrático, os partidos foram tomados por oligarquias. Ao longo das décadas capturaram não só o sistema político, como o próprio regime e as instituições do Estado. Os problemas de disfuncionalidade do Estado, corrupção e desgoverno vêm daí. É por isso porque a denúncia de atos escandalosos de governantes nunca resulta em penalização e até é recebida pelos seus autores com indiferença: com uma boa posição no partido, o pior que lhes acontece é passarem o mandato seguinte no parlamento.
7) NÃO SOMOS RESPONSÁVEIS
POR POLÍTICOS QUE NÃO ESCOLHEMOS
Se analisarmos o nosso sistema político, percebemos que é injusta a ideia de que os políticos são maus porque os eleitores não sabem votar. Sabem, e até são bastante exigentes. O problema é que não dispõem dos meios para impor os seus padrões de exigência na seleção dos políticos. A maioria das opções usadas em outros países são-lhes negadas por este sistema político. Não podem expressar uma preferência dentro duma lista, o voto branco não é tido em conta na atribuição dos lugares de deputado, não têm o direito de iniciativa legislativa, os referendos estão limitados nas matérias sobre que podem incidir, o parlamento pode bloquear iniciativas referendárias, etc, etc.
8) ISTO
SÓ VIRA COM O VOTO NOMINAL
Não é possível desbloquear a partidocracia sem introduzir o voto nominal. Mas para haver sucesso, é essencial fazê-lo duma maneira simples e pacífica, para minorar o mais possível "resistências" e negociações "intermináveis": manter o atual sistema, mas com um voto preferencial a ordenar as listas. As listas são incluídas no boletim de voto e os eleitores votam num candidato duma lista, voto que também conta como um voto na lista. O método de D'Hondt continua a ser usado tal como agora. Só muda a ordem de atribuição dos lugares de deputado, que passa a ser em função de quem recebeu mais votos. Nenhum candidato tem garantia prévia de ser eleito. Passa a haver escrutínio.
Frase do dia
..."Como se sabe e os parolos agora certificam, no estrangeiro é que está a verdade."...
Por Pedro Arroja
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Ícone liberal
Foi anunciado em campanha que se ia cortar na gordura do estado e até agora (+ de 8 meses de governo) só foram ainda à carne dos portugueses.
Não aja assim confusão de rótulos.
Não dá para ter como ícone liberal alguém que eleva impostos e não corta nos gastos e protege os interesses dos grandes grupos económicos...
Continua a ser o estado (ou o monstro) quem mais ordena e isso chama-se intervencionismo.
Um verdadeiro artista
E como se sabe artista que é artista acaba sempre em Paris...
Até quando teremos os nossos tribunais a assobiar para o lado?
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
O estranho caso espanhol
Os espanhóis têm uma boa razão para se sentirem difamados pela narrativa egoísta do Norte da Europa da crise UEM.
Nunca violaram as regras da dívida de Maastricht. Obtiveram um excedente orçamental de 2% do PIB durante os tempos de boom.
O crédito privado entrou numa espiral descontrolada em parte porque o Banco Central Europeu falhou os seus limites para a inflação todos os meses durante quase nove anos e fez explodir a oferta de dinheiro M3 na Zona Euro para o dobro do nível desejado pelos próprios bancos para ajudar a Alemanha, então em dificuldades.
Tal política frouxa foi um tóxico para a economia do tigre ibérico, que foi inundado de capital do norte europeu que não deveria ter acontecido ao abrigo das normas da UE.
As taxas foram 2% menos em termos reais, ano após ano, apesar da tentativa ao longo dos anos dos esforços heróicos do Banco da Espanha para conter os danos.
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domingo, 26 de fevereiro de 2012
Citação do dia
..."O propósito do dinheiro é servir à sociedade e facilitar a troca de bens necessária à condução da vida."...
Por São Tomás de Aquino
Finlândia - anti-corrupção
Finlândia como lutou contra a corrupção?
A Finlândia tem sido reconhecida internacionalmente como o país menos corrupto do mundo, uma parte desse sucesso está na moralidade que impera no país, apesar disso, e para facilitar a transparência, tem também um conjunto de princípios com vista a evitar abuso de poder que são raros na cultura Portuguesa.
Modelo de luta que a Finlândia usa contra a corrupção:
PRIMEIRO: O princípio do preço de mercado.
Em qualquer compra feita na Finlândia, o governo quer compre uma caneta ou um edifício, devem ser adquiridos a preços de mercado e, forçosamente, incluir três ofertas de fornecedores diferentes para escolher o mais competitivo. Não é legal, permitido ou justificável pagar fortunas por obras ou serviços que ultrapassam o razoável, e que mesmo depois de se tornar publicamente conhecido os preços descabidos, não acontece nada aos envolvidos.
SEGUNDO: O princípio da transparência total da administração pública.
Qualquer decisão de um funcionário público no exercício da sua profissão (exceto as relacionados com a segurança) pode ser conhecido pelos cidadãos. Não pode recusar-se a satisfazer as necessidades de informação não só dos jornalistas, como dos eleitores.
TERCEIRO: O princípio da transparência total nas contas dos cidadãos.
Os finlandeses podem saber quais são os rendimentos declarados de todos os residentes no país, seja de uma pessoa que recebe o subsídio de desemprego, ou do artista de maior sucesso da nação ou mesmo o CEO da Nokia.
QUARTA: Não existem presidentes de Câmara.
O governo dos municípios na Finlândia encontra-se nas mãos de "gestores da cidade", ou seja, funcionários públicos com experiência na administração de tais entidades. Assim, o público pode distinguir claramente o responsável e que até podem ser despedidos ou substituídos, pela Câmara Municipal ( órgão eleito nas urnas pelo povo e que possui a representatividade da soberania popular).Helsínquia é a exceção a este modelo.
QUINTO: Ausência de cargos de designação politica.
Na Finlândia, os secretários de estado fazem carreira sendo sujeitos e superando avaliações e provas objetivas, em vez de designação partidocrática como em Portugal. Em 2005 fez-se uma reformulação do sistema para permitir que organizações políticas pudessem escolher os secretários de Estado novamente, mas muitos deles ainda são funcionários públicos, atualmente continuam a ser promovidos por mérito.
SEXTA: A estrutura do poder é de coligação.
Corrupção espalha-se mais facilmente quando o poder está concentrado em apenas um indivíduo, é por isso que na Finlândia se promove a tomada de decisão através do debate e consenso. O Conselho de Ministros tem mais poder que o Presidente da República.
SÉTIMO: O princípio do livre acesso ao poder.
A possibilidade de se tornar um membro do poder politico ou de ministérios, finlandês não está circunscrito numa elite intelectual formada em instituições educacionais concretas (como na França), nem em pessoas que tem a capacidade de atrair investidores de diferentes empresas para financiar suas campanhas ( EUA exemplo) ou membros de partidos e organizações políticas públicas cujo único mérito foi alcançado internamente e apenas no seu partido (caso espanhol e português).
Na Finlândia, as posições no poder, são ocupadas por funcionários públicos (seguindo uma escala de mérito) e cuja escalada na carreira está aberta ao conhecimento de todos os finlandeses.
OITAVO: O princípio da proporcionalidade no castigo.
As multas ou sanções por violar as regras é geralmente proporcional ao rendimento dos indivíduos e empresas. Em 2001, Anssi Vanjoki, executivo sênior da Nokia, foi multado ao passar o limite de velocidade, na sua mota Harley Davidson e a multa foi cerca de 104.000 dólares na época. Este princípio da proporcionalidade no castigo, leva os políticos tentados a participar num caso de corrupção, a pensar duas vezes antes de serem tentados a cruzar o limite da legalidade.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Citação do dia
..."Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e não me importarei com quem redige as leis."...
Por Mayer Amschel (Bauer) Rothschild
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Catolicismo, protestantismo e capitalismo
Existe uma percepção geral que a economia de mercado foi projetada apenas na visão protestante e até há quem tente estabelecer a dicotomia de diferenças económicas entre países na questão católico vs protestante.
Segue abaixo um excelente artigo de Rothbard publicado no Instituto Mises Brasil:
Em 8 de agosto de 1957, Murray N. Rothbard escreveu para Richard C. Cornuelle, do Volker Fund, recomendando incisivamente as pesquisas de Emil Kauder sobre as bases aristotélicas da utilidade marginal e da teoria econômica austríaca (Ensaios de Rothbard).
Em um memorando de fevereiro de 1957, "Catolicismo, protestantismo e capitalismo", reproduzido abaixo, Rothbard apresenta algumas idéias sobre essas questões. O texto de Rothbard revela um precoce e aguçado interesse em relação à história do pensamento económico.
Os memorandos que ele escreveu para o Volker Fund, do início dos anos 1950 até 1962, presentes em uma grande variedade de livros e periódicos eruditos, mostram seu crescente conhecimento do assunto. Além disso, seu orientador de dissertação, o Professor Joseph Dorfman, era uma autoridade em história do pensamento económico americano, e Rothbard estava muito interessado nas, dentre outras questões, contribuições americanas para os debates monetários no início do século XIX. Rothbard, que era tanto um historiador como um economista, estava bem posicionado, não só para avaliar livros para o Volker Fund, mas também para dominar e sintetizar as doutrinas econômicas de uma maneira lógica e com uma perspectiva histórica. Sua última grande obra publicada, History of Economic Thought (1995), em dois volumes, certamente serve como prova disso. Joseph Stromberg
Nos últimos anos, um grupo de estudiosos (sendo que a maioria deles poderia ser chamada de "católicos de direita") decidiu revisar a interpretação padrão sobre a ascensão da economia e do capitalismo. Essa interpretação padrão diz que tanto o pensamento económico como as políticas económicas laissez-faire, que estimularam o capitalismo, desenvolveram-se como fruto de uma rejeição aos grilhões do catolicismo medieval.
O espírito moderno das pesquisas científicas derrotou o dogmatismo escolástico e permitiu o surgimento de um espírito largamente individualista e racional; a rejeição à autoridade da Igreja levou a um individualismo generalizado em todos os campos; a ética e o espírito calvinista, que enfatizava o valor positivo do trabalho árduo, da parcimônia, e da ação de ganhar dinheiro, levou ao florescimento do capitalismo, ao passo que os católicos reprovavam solenemente esta ação de ganhar dinheiro. E, por fim, a interpretação padrão diz ainda que a economia laissez-faire cresceu apenas na atmosfera protestante da Grã-Bretanha (Adam Smith, etc.)
Entretanto, há um outro lado da moeda, e interpretações divergentes, particularmente nas áreas da filosofia política (o direito natural, por exemplo) e do pensamento econômico, têm surgido nos últimos anos. Para fins de leitura sobre essa Nova Escola, eu sugeriria: Joseph A. Schumpeter, History of Economic Analysis (Nova York, 1954), especialmente as páginas 73-142; Marjorie Grice-Hutchinson, The School of Salamanca (Oxford, 1952); Emil Kauder, "Genesis of the Marginal Utility Theory," Economic Journal (Setembro de 1953); Kauder, "Retarded Acceptance of the Marginal Utility Theory," Quarterly Journal of Economics (Novembro de 1953), e "Comment" (Agosto de 1955); e Raymond de Roover, "Scholastic Economics: Survival and Lasting Influence from the 16thCentury to Adam Smith," Quarterly Journal of Economics (Maio de 1955).
Esses revisionistas pouco fizeram diretamente contra um dos alicerces da abordagem tradicional - A Ética Protestante, de Max Weber - mas fizeram muito por vias indiretas. Recomenda-se as críticas à Weber feitas por H. M. Robertson, Aspects of Economic Individualism (Londres, 1933). Robertson e outros mostraram, por exemplo, que o capitalismo realmente começou a prosperar, não na Grã-Bretanha, mas nas cidades italianas do século XIV, ou seja, em áreas decididamente católicas. De fato, o ponto principal da crítica revisionista, em todas as áreas, é a coesão das idéias - que o capitalismo, o liberalismo, o racionalismo, o pensamento econômico, etc. começaram bem antes de Smith et al., e sob auspícios católicos; e que os desenvolvimentos posteriores se baseavam em - e em alguns casos retrocediam de - posições católicas anteriores.
Emil Kauder, de fato, joga a tese de Weber[1] contra seus próprios seguidores ao atacar Smith e Ricardo, acusando-os de terem sido influenciados pelo protestantismo ao desenvolverem a "teoria do valor-trabalho". Schumpeter também se inclinava para essa direção. A força dessa nova e importante tese é a seguinte: ao invés de dizer que Hume e Smith desenvolveram a teoria econômica quase que partindo do zero, mostra-se que a ciência econômica começou a ser realmente desenvolvida, lenta porém seguramente, ao longo dos séculos, pelos escolásticos e por católicos italianos e franceses que foram influenciados pelos escolásticos; que a abordagem econômica feita por eles era, de maneira geral, metodologicamente individualista, e enfatizava a teoria da utilidade, a soberania do consumidor e as precificações via mercado, e que Smith acabou atrasando o pensamento econômico ao injetar a doutrina puramente britânica da teoria do valor-trabalho, jogando dessa forma a ciência econômica para fora dos trilhos por cem anos. Nesse ponto, posso acrescentar que a teoria do valor-trabalho gerou muitas conseqüências nefastas. Ela, é claro, pavimentou o caminho, de maneira lógica, para Marx. Além disso, sua ênfase na tese de que "custos determinam os preços" estimulou a idéia de que são os empresários ou os sindicatos que aumentam determinantemente os preços, e não a inflação da oferta monetária feita pelo governo. E, ademais, a ênfase em "valor objetivo e inerente" dos bens levou a tentativas "cientificistas" de se mensurar valores, estabilizá-los através de manipulações governamentais, etc.
A interessante tese de Kauder está dividida em duas partes: uma, que diz que o relato acima representa o curso histórico dos eventos no pensamento econômico; e a outra, que diz que a razão para o esquecimento da teoria da utilidade e sua consequente substituição por uma teoria de custo-trabalho foi influenciada pelo protestantismo, em oposição ao espírito católico.
Kauder afirma, primeiramente, que a teoria da utilidade foi desenvolvida em grande escala primeiro por Aristóteles, e depois pelos escolásticos, particularmente os negligenciados escolásticos espanhóis de fins do século XVI e começo do século XVII. A maioria dos historiadores tem ignorado esses escolásticos tardios e sua influência, ao menos até recentemente. A idéia dominante é a de que os escolásticos desapareceram junto com a Idade Média, e o intervalo de tempo entre esse período e o atual foi preenchido apenas pelos mercantilistas. Os mercantilistas, no entanto, eram estatistas panfletários sempre que julgavam conveniente, e contribuíram menos para a economia e para o liberalismo do que os escolásticos tardios. (Ver DeRoover)
A ênfase aos valores subjetivos dos indivíduos e da utilidade também foi continuada pelos grandes filósofos políticos protestantes (Hugo) Grócio e (Samuel) Pufendorf, que foram diretamente influenciados pelos escolásticos espanhóis (e também, como veremos abaixo, no campo do direito natural), e pelos economistas italianos de Volterra (meados do século XVI), Davanzatti (fins do século XVI), Montanari (Fins do século XVII), e principalmente Galiani (por volta de 1750). A teoria foi posteriormente desenvolvida por Turgot e Condillac, católicos franceses (meados do século XVIII). Na época destes três últimos, Kauder afirma que o "paradoxo do valor" (ouro vs. ferro) havia sido resolvido pela teoria da utilidade desenvolvida por eles. No entanto, a dupla Smith-Ricardo jogou fora a conclusão e restabeleceu o problema do paradoxo do valor. (Posso acrescentar que a resultante abordagem holística feita por Smith e Ricardo era sutilmente socialista, uma espécie de quarta via: ela estabeleceu o costume de se separar a Distribuição da Produção, e de se falar apenas em grupos de fatores, e não em fatores individuais - ou seja, trabalho ao invés de trabalhadores).
E Kauder vai em frente e mostra que os teóricos do valor e utilidade subjetivos eram católicos franco-italianos, enquanto que os teóricos do valor-trabalho - Petty, Locke e Smith - eram protestantes britânicos. Kauder atribui esse fato precisamente à ênfase calvinista na divindade do trabalho, em contraposição ao pensamento católico, que considerava o trabalho apenas como um meio de ganhar a vida.
Os escolásticos, então, estavam livres para concluir que o "preço justo" era essencialmente o preço competitivo definido pelo mercado, ao passo que os britânicos, influenciados pelos protestantes, tinham a dizer apenas que o preço justo é o preço "natural" em que "a quantidade de trabalho trocada por cada bem é a mesma". Já De Roover mostra que ambos os escolásticos tardios espanhóis Domingo de Soto e Luis de Molina denunciaram como falaciosa a máxima do beato (John) Duns Scot, que dizia que o preço justo é igual ao custo de produção mais um lucro razoável. É fato que Smith e Locke foram influenciados tanto pela corrente escolástica, que eles adquiriram através de seus treinamentos filosóficos, como pela ênfase calvinista na divindade do trabalho.
Também é verdade que Smith acreditava que a livre concorrência eventualmente levaria os preços de mercado para perto do "preço justo", mas é evidente que um perigo já havia sido introduzido - perigo esse que foi totalmente explorado por Marx (e que, de fato, ainda perdura nas teorias de concorrência imperfeita, que são similares à crença em algum mundo mais justo onde reinam os preços "naturais" e "ótimos").
Por outro lado, os discípulos de São Tomás de Aquino, os tomistas, sempre centraram seus estudos económicos no consumidor, considerando-o a "causa final" aristotélica do sistema económico, e que o objetivo final do consumidor é a "moderada busca pelo prazer".
Já no século XIX, diz Kauder, as influências religiosas sobre o pensamento econômico não eram importante. No entanto, ele aponta a importância das estritas raízes evangélicas de Alfred Marshall. O pai de Marshall era um evangélico rigoroso, e os evangélicos eram severos calvinistas-revivalistas. Talvez seja por isso que Marshall resistiu à teoria da utilidade, e insistiu em reter ao máximo a teoria ricardiana do custo, a qual perdura até hoje como resultado.
Os escolásticos, então, estavam livres para concluir que o "preço justo" era essencialmente o preço competitivo definido pelo mercado, ao passo que os britânicos, influenciados pelos protestantes, tinham a dizer apenas que o preço justo é o preço "natural" em que "a quantidade de trabalho trocada por cada bem é a mesma". Já De Roover mostra que ambos os escolásticos tardios espanhóis Domingo de Soto e Luis de Molina denunciaram como falaciosa a máxima do beato (John) Duns Scot, que dizia que o preço justo é igual ao custo de produção mais um lucro razoável. É fato que Smith e Locke foram influenciados tanto pela corrente escolástica, que eles adquiriram através de seus treinamentos filosóficos, como pela ênfase calvinista na divindade do trabalho.
Também é verdade que Smith acreditava que a livre concorrência eventualmente levaria os preços de mercado para perto do "preço justo", mas é evidente que um perigo já havia sido introduzido - perigo esse que foi totalmente explorado por Marx (e que, de fato, ainda perdura nas teorias de concorrência imperfeita, que são similares à crença em algum mundo mais justo onde reinam os preços "naturais" e "ótimos").
Por outro lado, os discípulos de São Tomás de Aquino, os tomistas, sempre centraram seus estudos económicos no consumidor, considerando-o a "causa final" aristotélica do sistema económico, e que o objetivo final do consumidor é a "moderada busca pelo prazer".
Já no século XIX, diz Kauder, as influências religiosas sobre o pensamento econômico não eram importante. No entanto, ele aponta a importância das estritas raízes evangélicas de Alfred Marshall. O pai de Marshall era um evangélico rigoroso, e os evangélicos eram severos calvinistas-revivalistas. Talvez seja por isso que Marshall resistiu à teoria da utilidade, e insistiu em reter ao máximo a teoria ricardiana do custo, a qual perdura até hoje como resultado.
Contudo, gostaria de adicionar alguns comentários. Os mais "dogmáticos" adeptos do laissez-faire no século XIX não foram os economistas britânicos, mas sim os economistas (católicos) franceses. Bastiat, Molinari, etc. foram muito mais rigorosos do que os sempre pragmáticos liberais ingleses. Ademais, a fina-flor da teoria laissez-faire foi desenvolvida pelos católicos fisiocratas, que foram influenciados diretamente pelo conceito das leis e dos direitos naturais.
E isso me leva à segunda grande influência dos católicos escolásticos - a teoria das leis e dos direitos naturais. Certamente o direito natural era um grande obstáculo ao absolutismo estatal, e começou com o pensamento católico. Schumpeter mostrou que o direito divino dos reis era uma teoria protestante.
A teoria das leis e dos direitos naturais também fluiu dos escolásticos até os filósofos morais franceses e britânicos. A conexão foi obscurecida pelo fato de que muitos dos racionalistas do século XVIII, sendo amargamente anti-catolicismo, se recusaram a reconhecer seu débito intelectual para com os pensadores católicos. Schumpeter, de fato, afirma que o individualismo começou com o pensamento católico.
Assim: "a sociedade foi tratada (por Santo Tomás de Aquino) como uma questão completamente humana, e mais ainda, como uma mera aglomeração de indivíduos que ocorre por causa de suas necessidades mundanas... o poder do monarca derivava-se do povo... por delegação. O povo é soberano e um monarca indigno poderia ser deposto. Duns Scot chegou ainda mais perto de adotar uma teoria do contrato social do estado.
A teoria das leis e dos direitos naturais também fluiu dos escolásticos até os filósofos morais franceses e britânicos. A conexão foi obscurecida pelo fato de que muitos dos racionalistas do século XVIII, sendo amargamente anti-catolicismo, se recusaram a reconhecer seu débito intelectual para com os pensadores católicos. Schumpeter, de fato, afirma que o individualismo começou com o pensamento católico.
Assim: "a sociedade foi tratada (por Santo Tomás de Aquino) como uma questão completamente humana, e mais ainda, como uma mera aglomeração de indivíduos que ocorre por causa de suas necessidades mundanas... o poder do monarca derivava-se do povo... por delegação. O povo é soberano e um monarca indigno poderia ser deposto. Duns Scot chegou ainda mais perto de adotar uma teoria do contrato social do estado.
Este... argumento é notavelmente individualista, utilitarista e racionalista ..."[2] Schumpeter também enfatiza a defesa da propriedade privada feita por Tomás de Aquino e menciona em particular o espírito anti-estatizante do escolástico Juan de Mariana, 1599. Ainda sobre eles, Schumpeter também fala sobre a adoção do preço de mercado como sendo essencialmente o preço justo, a teoria da utilidade, o valor subjetivo, etc. Ele diz que, enquanto Aristóteles e Scot acreditavam que o preço normal de concorrência era o preço justo, os escolásticos tardios espanhóis identificavam os preços de mercado com qualquer preço concorrencial, como no caso de Luis de Molina. Eles também tinham uma teoria para o padrão-ouro, e se opunham ao enfraquecimento da moeda. Schumpeter ainda diz que de Lugo desenvolveu uma teoria sobre os riscos dos lucros empresariais, a qual, é claro, só foi completamente desenvolvida na virada do século XX e depois.[3]
Apesar de que a teoria dos direitos naturais, do século XVIII, era muito mais individualista e libertária do que a versão escolástica, há definitivamente uma continuidade. O mesmo vale para o Racionalismo, sendo a razão o principal artifício usado por Tomás de Aquino, e sendo essa mesma razão combatida pelos protestantes, que colocavam suas ideologias - e sua ética - em uma base mais emocional, encarando-a como sendo uma Revelação direta.
Podemos resumir o Argumento pelo Catolicismo da seguinte maneira: (1) o laissez-faire de Smith e as idéias do direito natural advêm dos escolásticos tardios e dos fisiocratas católicos; (2) os católicos desenvolveram a utilidade marginal, a economia do valor subjetivo e a idéia de que o preço justo era o preço de mercado, ao passo que os protestantes britânicos desenvolveram uma perigosa e altamente estatista teoria do valor-trabalho, influenciados pelo calvinismo; (3) alguns dos mais "dogmáticos" teóricos do laissez-faire foram católicos: desde os fisiocratas até Bastiat; (4) o capitalismo começou nas cidades italianas católicas do século XIV; (5) direitos naturais e outras visões racionalistas descenderam dos escolásticos.
Também recomendaria, como um exemplo um tanto assustador de como uma influência protestante-calvinista pode levar a uma filosofia de socialismo altruísta, a leitura do ensaio "T. H. Green and His Audience: Liberalism as a Surrogate Faith", Review of Politics (Outubro, 1956), de Melvin Richter.
Conquanto seja algo tangente a este memorando em particular, também recomendaria fortemente Erik von Kuehnelt-Leddihn, Liberty or Equality (Caldwell, Id., 1952), sendo que o ponto principal do livro é a tese de que o catolicismo promove um espírito libertário (ainda que "anti-democrático"), ao passo que o protestantismo promove o socialismo, o totalitarismo e o espírito coletivista. Um exemplo é a afirmação de Kuehnelt-Leddihn de que a crença católica na razão e na verdade tende ao "extremismo" e ao "radicalismo", enquanto a ênfase protestante na intuição leva a uma crença em concessões, em pesquisas de opinião, etc.
A opinião do Professor von Mises sobre a tese de Max Weber deve ser mencionada: Weber inverteu o verdadeiro padrão causal, isto é, que o capitalismo veio primeiro e que os calvinistas adaptaram seus ensinamentos à crescente influência da burguesia. Weber relatou que os fatos ocorreram em ordem contrária.
Não estou preparado para dizer que a causa protestante deve ser descartada completamente e que a visão católica deve ser adotada completamente. Mas parece evidente que a história é bem mais complexa do que a versão padrão nos faz crer. Certamente, os Revisionistas oferecem uma excelente corretiva[4]. Quanto às questões específicas sobre a teoria da utilidade e Adam Smith, posso fazer um endosso aos revisionistas. Por muito tempo tenho sentido que Adam Smith tem sido consideravelmente sobreestimado como sendo um inflexível adepto do laissez-faire.
__________________
Notas (todas fornecidas pelo editor)
[1]. Consulte Randall Collins, um sociólogo weberiano, que também inverteu a tese de Weber ao mesmo tempo em que usava os métodos de reconstrução histórica do prórpio Max Weber; ver Weberian Sociological Theory (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1986), onde Collins escreve: "A cristandade foi a principal revolução weberiana, que criou as formas institucionais pelas quais o capitalismo pôde surgir. A reforma Protestante representou apenas uma crise particular ao fim de um ciclo de longo prazo; ela deu início a um segundo movimento, que nós erroneamente vemos como sendo o primeiro." (pág. 76)
[2]. Joseph A. Schumpeter, History of Economic Analysis (Nova York: Oxford University Press, 1954) pp. 91-92.
[3]. Ver principalmente, Alejandro A. Chafuen, Faith and Liberty: The Economic Thought of the Late Scholastics(Lanham, MD: Lexington Books, 2003).
[4]. Rothbard mais tarde desenvolveu essa linha de ataque em grandes detalhes; ver Murray N. Rothbard,Economic Thought Before Adam Smith: An Austrian Perspective on the History of Economic Thought, I (Cheltenham, UK: Edward Elgar, 1995), p. 31-175.
Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies.
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